quarta-feira, 3 de junho de 2020

A DOR DA DOR QUE SENTE


(RÔ Campos)

Por que tem que ser assim tão longe
O que vive dentro da gente?
E as nuvens leves pesarem com o tempo,  num acúmulo de forças
A desabar  como forte chuva sobre as nossas cabeças?
O que foi feito do sol que até ontem à noite ainda dormia plácido
E havia sol, lua e estrelas no céu que nos cobria?
Aonde foi parar a  fé que,  depois de longa agonia,
Foi morar em cada flor que se abria
E não havia nem escuridão nem medo?
E vieram tantos que se diziam pequeninos e se queriam profetas·
E bradavam que a esperança ,com sua espada,
Venceria o algoz de todos nós - Golias,
Golpeando a face  obscura das gentes que se diziam
Um despertar de um novo tempo, um voo alto, um canto cálido·
Mas o que se vê, agora, o que se ouve, o que se sente:
Os olhos eram cegos e não viam
E os ouvidos se perderam entre as bigornas, os estribos e os martelos·
A carne  apodrecendo nos becos do esquecimento
Ou nos corredores de paredes brancas sob os olhares dos aflitos,
Nada mais sente a não ser a dor da dor que sente,
E os gritos que saem da boca dos homens de amores famintos
Que agonizam ali  nos corredores da morte
Enquanto demora a morte total e morrem aos poucos os sonhos que não mais voam:
Asas partidas, céu sem vento, esperanças perdidas·

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