segunda-feira, 24 de novembro de 2014

ASAS PARTIDAS


(RÔ Campos)

Por que te foste, assim, do meu ninho, passarinho?
Eu o construí no verão para te agasalhar quando o inverno viesse. Sempre foste o meu menino,e nem percebi que, silenciosamente, criavas asas.

Querias partir, sem nem mesmo saber para onde. Não querias mais ficar aqui e cumpriste o teu desejo.

Que não lancem sujidades sobre ti. Porque é grande a minha chaga e a saudade dói demais, mas tenho que aceitar que não há lei nenhuma no universo que possua o condão de regular o pensamento, e exerça algum poder de coação sobre este.

Muito antes de alçares esse voo medonho, andavas comigo por aí, pé na estrada, cantando o amor e a vida... a viola debaixo do braço, o sorriso franco, meio contido, eu sei, mas franco.E eu nem sabia que algo me escondias, mesmo estando ali, tão perto do meu coração e dos meus olhos.

E eis que tu, meu menino, resolveste abreviar o teu voo pela vida. E que faço eu, agora, que tenho asas e não posso mais voar?

Como vou cantar, doravante, meu menino, se meu ninho está vazio, sem meu menino-passarinho que se foi sem me avisar?

Será que eu andei errado? Onde foi que eu errei, então, fico a me perguntar?

Estavas sempre aconchegado no meu ninho, sob as minhas asas e, de repente, te vês alado e te vais pra nunca mais...

E nós, aqui, meu menino, olhando para o céu e perguntando às estrelas o que foi que aconteceu.

Eu já andava devagar porque a pressa já não fazia mais sentido. E agora, meu menino, que não estás mais aqui, já nem sei o que fazer com o sorriso largo que eu, contigo a meu lado, carregava mundo afora.

Já não procuro uma nota. Não há nota alguma. Nenhum acorde. Todo o meu cantar emudeceu.

Mas eu canto, mesmo mudo. É meu peito arrebentando. São minhas lágrimas que caem.

E, assim, vou tocando em frente. Porque o meu cantar é por ti, por todos nós. E, se eu canto, é o meu cantar a única coisa que aprendi neste mundo de que nada sei.

E, quando canto, é como te sinto. É onde te encontro.


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