segunda-feira, 4 de abril de 2011

QUIMERA

(RÔ Campos)


Canta e dança a desilusão
Dança o véu na escuridão
Dos sonhos presos no vão da porta
Das horas que são quase mortas.

Quero me dar. Serei perdida, alguém me disse.
Se me nego, não é minha vontade que fala.
Vou sair, te procurar, sorrateira,
Nas noites, nos bares, onde possa te encontrar
Quem sabe eu te conheça e tu me saibas.
Os meus segredos a ti me façam pequena;
Os teus a mim me mostrem: não és assim tão grande.
É como se dá com o tempo, que tudo fala
E depois adormece e cala nossos sonhos.

Mas ainda sonho: insisto, procuro
Teus olhos, teu olhar, no escuro,
Na noite de lua minguante, no Largo.
Logo te avisto, te acho, num lampejo,
Mas finjo que não te vejo.


Já não sonho, agora.
E ainda assim teimo em sonhar.
Lembrei-me nesta manhã, ao despertar:
Uma noite, a lua minguante, que nada mais alumia,
Vai nos levar
À cama, outrora tão vazia e fria.
Eu te saciarei e tu me farás novamente fausta
E farta.

Mas eu sei, penso que sei
Vens de dores que não se ausentam. Eu também.
Conheço esse buscar:
A pena com a qual hoje escreves teus versos
Derrama todo o teu penar.

Tudo é quimera!
E o que agora buscamos,
Muito já tivemos – talvez nem vimos.
O que sempre pensamos seja céu
Às vezes é o inferno que nos espera.

(madrugada de 23/09/2010)

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